segunda-feira, 31 de outubro de 2016

"(...) A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. 
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. 
Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."

Marina Colasanti


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Jeremy Lipking

A gente se acostuma que é para não ferir o certo. O novo garante uma sucessão de incertezas, já o velho mora no aconchego do medo.
A gente se acostuma porque dói menos e no mais já estamos cansados. O velho tem vista para o mar, suco geladinho. O novo é aquela trilha que a gente nem sabe aonde dará. Então a gente se acostuma porque é mais fácil se ferir, acostumamos a nos sabotar.
Mas hoje não. Não quero vista para o mar, quero ser o próprio mar e suas correntezas. Quero poder trilhar o novo sem o medo palpável da incerteza, e para quê saber? Se o que me move é a fé. 
E quando se tem fé, vamos até de olhos vendados aos pés do precipício, se houver o pulo, não caio eu voo. Isso é fé.

Patrícia Rocha

*Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis.

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